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quarta-feira, 4 de maio de 2016

"CONGELADO NO TEMPO".

Em 5 de outubro de 1999, pouco antes de uma devastadora avalanche varrer as encostas próximas do acampamento-base do monte Shishapangma (8.027 metros), matando o montanhista Alex Lowe, ele parecia “quase certamente entusiasmado e feliz”, descreveu na época seu amigo Gordon Wiltsie, fotógrafo da National Geographic. “Que seu corpo descanse para sempre no lado tibetano da montanha é um bom lugar”, afirmou. A avalanche também matou o cinegrafista Dave Bridges, 29 anos, além de causar ferimentos leves em Conrad Anker. Lowe tinha 40 anos e era considerado o melhor alínista da historia da America do Norte e um dos maiores no cenário internacional. Os caprichos dos movimentos glaciares acabam de impedir o desejo de Wiltsie: os corpos de Lowe e Bridges foram encontrados, por puro acaso, pelos alpinistas Ueli Steck e David Goettler, que atualmente busca abrir nessa montanha uma nova via de escaladas com um desnível de 2.000 metros.
Alex Lowe  o primeiro a esquerda
 ao lado de Conrad Anker
alpinista que foi soterrado
 por uma avalanche em 1999.
Os perigos rondam de todos os lados,
 as vidas dos destemidos alpinistas, 
Conrad Anker levou anos para superar a morte do seu grande amigo e mentor, seu parceiro de escalada, seu alter ego. Demorou a entender por que, estando tão perto, a avalanche poupou sua vida. Seus colegas de expedição procuraram os corpos durante dias, sem sucesso. Dois anos depois da tragédia, Conrad Anker se casou com a viúva de Alex Lowe, Jennifer, e adotou os três filhos dele, Max, de 10 anos, Sam, de 6, e Isaac, de 3. Em seguida, criaram a Alex Lowe Foundation, uma organização beneficente cujo site estampa nesta segunda-feira o título: “Alívio”.Muitos dos que perdem um ente querido na montanha fazem o impossível para recuperar seus restos. É uma forma de encerrar o luto, olhar ao futuro, de virar uma página que, entretanto, sempre continuará presa. É a necessidade de saber que a pessoa desaparecida não será encontrada por um desconhecido. Conrad Anker e sua esposa estavam por acaso no Nepal, trabalhando para sua fundação quando receberam a ligação do suíço Ueli Steck e do alemão David Goettler.
Conrado Anker  considerado o melhor
 alpinista americano sobreviveu por muito
 pouco e viu seu grande amigo ser
 engolido pela avalanche.
Alex Lowe virou uma lenda por sua imensa
 capacidade em vencer os grandes picos
 e tambem por ter salvo muitos alpinistas. 
 Descreveram dois corpos “ainda presos no gelo azul, mas emergindo da geleira”. Os dois fizeram a mesma descrição da roupa, e Anker soube, “sem nenhuma dúvida”, que haviam encontrado os restos de seus amigos. “A descoberta traz alívio a Jennifer, nossa família e a mim, e fecha um círculo”, declarou Anker. Sua mulher, Jennifer, escreveu no site da fundação: “Alex e David desapareceram, foram capturados e permaneceram congelados no tempo. Agora agradecemos por conseguirmos recuperá-los”. O casal irá agora ao acampamento-base de Shishapangma com a ideia de “dar descanso” aos dois alpinistas. Conrad Anker agora é um dos alpinistas mais respeitados do momento, um homem que vive com sua família em Bozeman, Montana e que percorreu quase o mesmo caminho de sucesso de seu amigo Alex. Por isso se prendeu a um detalhe: “é bom que seus restos tenham sido encontrados por alpinistas. Não foram encontrados por um pastor com seus iaques.
Por tras de uma belíssima imagem, 
se escondem grandes perigos.
O tempo muda de uma hora para outra 
deixando os alpinistas a sua própria sorte.
Sem duvida as avalanches ainda
 são as maiores causadoras de
 mortes nas escaladas.
 Não foi um alpinista amador. David e Ueli são feitos do mesmo barro que eu e Alex”, declarou à revista OutsideUeli Steck é o melhor alpinista do momento, uma pessoa à frente de seu tempo que acabou com muitas barreiras psicológicas no mundo do alpinismo. Se Alex Lowe é lembrado por seus resgastes no Denali, salvando vidas sem pensar na sua, Steck se lembra dele por seus gestos no lado Sul do Annapurna: foi o único capaz de socorrer Iñaki Ochoa de Olza em sua agonia na montanha, impedindo que morresse sozinho, e anos depois retornou para realizar no mesmo lugar uma escalada de outro mundo: escalou e desceu a parede por um novo caminho em 28 horas. Conrad Anker foi co-protagonista de um grande documentário chamado Retorno a Meruque, após receber o prêmio do júri no Festival de Sundance em 2015, chegou a ser exibido em circuito comercial nos Estados Unidos. Foi um enorme e inesperado sucesso. Anker explica no filme como superou a perda de seus dois mentores: Mugs Stump e Alex Lowe, e ao lado de dois alpinistas muito mais jovens do que ele realiza o caminho da conquista da Barbatana de Tubarão do Meru. Anker fala da necessidade e da sorte de contar com um mentor que ajude o alpinista jovem a entender a montanha, seus códigos, sua essência, seus dramas, suas leis não escritas. E a continuar vivendo quando a perda o paralisa completamente.
Fonte El Pais.

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