Tempestade luminosa,
um espetaculo mortal
LESÔES POR RAIO (Relâmpagos)
Mesmo presente no imáginario do alpinista
("Premier de Cordée...") e apesar de ser uma
região muito frequentada, ricas em agulhas de
granito, as lesões por acidentes com relâmpagos
raramente ocorrem, visto que o número de
vítimas nem sempre ultrapassa dois casos
por ano no maciço do Mont-Blanc.
PRINCIPAIS CONSEQÜÊNCIAS
Torna-se necessário diferenciar as
consequências diretas (ser atingido por
um raio) das consequências indiretas neste
ambiente de risco que é a alta montanha.
Podemos ver ainda lesões traumaáticas
devido a queda após o acidente.
CONSEQÜÊNCIAS DIRETAS:
- Queimaduras: por arco ou por lampejo,
- se o trajeto do raio não atravessa o corpo,
- de consequências moderadas.
- A diferenciardas queimaduras eletrotérmicas
- profundas e graves, por efeito Joule
- devido a passagem da corrente pelo
- corpo. Esta utiliza preferencialmente
- os eixos vasculares e nervosos, de
- menor resistência elétrica.
- Sistema Nervoso: O estado de coma
- não é raro, não importando o grau, com
- amnésia do acidente, por passagem da
- corrente a nível encefálico. Muitas vezes
- uma paralisia acompanhada de distúrbios
- vasomotores (Charcot) pode ocorrer, mas
- com regessão em menos de 24 horas.
- As sequelas de todo tipo são frequentes
- (hemiplegia, atrofia cortical, sindrome
- extrapiramidal, lesões medulares
- relacionadas a passagem da corrente
- pela medula espinhal, lesões de nervos
- periféricos com distúrbios sensitivos
- e motores).
- Cardiovascular: A parada pode ocorrer
- por assistolia ou fibrilação ventricular.
- o miocárdio pode ser atingido diretamente
- (Joule) , uma contusão miocárdica por
- onda de choque, trombose das arterias
- coronarianas e/ ou perifericas. Os
- distúrbios tardios do ritmo requerem
- vigilância cardioscópica de 24 a 48 horas
- . Uma hipovolemia pode ser de duas
- origens: esmagamentos (edemas extensos)
- ou eventual lesão traumática associada.
- Respiratório: Pode ocorrer uma tetania
- de curta duração dos músculos
- respiratórios, ou devido ao fato do
- centro respiratório no SNC ter sido
- atingido, ruptura brônquica ou pleural
- por efeito direto, lesão da membrana
- alvéolo-capilar devido a explosão por
- ar superaquecido.
- Neurosensorial: Descolamento de
- retina e catarata clássica devem ser
- investigados sistematicamente, assim
- como rutura timpânica, distúrbios do
- equilíbrio (por labirintite).
- Muscular: lesão muscular extensa
- no trajeto da corrente, com necrose
- profunda e rabdomiólise.
- Renal: três etiologias princiais podem
- ser vistas, tubulopatia devido a lise
- muscular; trombose arterial e lesão
- traumática.
- Cutânea: queimaduras de vários graus,
- em particular nos pontos de entrada
- (cirurgia reparadora frequente) e nos
- locais de contato com peças metálicas
- (como o material de escalada).
Animais atingidos por raio, receberam violenta
descarga elétrica e pereceram
CONSEQUÊNCIAS INDIRETAS:
Antes de ser atingido: o pânico num
ambiente repleto de raios é uma regra.
O simples fato de querer fugir da área
exposta a todo custo, expõe o alpinista
a manobras perigosas e acidentes
potenciais.
Durante e após o acidente: se o alpnista
não estiver adequadamente preso a
segurança, ele pode ser lançado no vazio.
E necessário, portanto, procurar por lesões
traumáticas. Damos atenção a lesões
cranianas, raquidianas e lesões pelo cinto.
Toda vitima de acidente com raios é
suspeita de politraumatismo.
Finalmente, se o resgate não é imediato
(tempestades costumam atrasar a
busca), a hipotermia pode se instalar
rapidamente neste indivíduo.
CONDUTAS NO LOCAL
O pior lugar do mundo para se ficar é embaixo
de uma arvore, que atrai os raios
como um para-raios natural
Assegurar e garantir funções vitais,
na ordem de importância e devido as
condições no ambiente exposto, fica
perfundir, sedar e imobilisar. Ter
atenção caso haja hipotermia ou
traumatismo associados. A
prevenção de insuficiência renal
passa por uma reposição precoce
de cristalóides. O monitoramento
cardíaco é fundamental. Muitas
vezes isso fica somente na teoria,
pois em condições de grandes
tempestades e vôos de alto risco,
o mímimo que se faz é a remoção
do paciente rapidamente.
NO HOSPITAL
Raramente as pessoas sobrevivem ao receberem tamanha quantidade de energia no corpo, abaixo uma mulher que sobreviveu a isso
Paciente gravemente ferido por queimaduras causadas por eletricidade
Paciente ileso ou levemente
ferido: Um agravamento do
quadro é sempre possível após
um intervalo livre de várias horas.
Todo paciente deve realizar um
ECG nas primeiras 24h. Em todo
paciente atingido na cabeça
deve ser realizado acompanhamento
oftalmológico regular (fundoscopia),
para avaliação precoce de
complicações.
Paciente apresentando sinais
de gravidade: A rotina completa
deve ser seguida como mostra
o quadro abaixo. A reanimação
deve ser feita o mais precoce
possível com prevenção da
mioglobinúria por reposição de
cristalóides, com objetivo de
manter o débito urinário de
1,5ml/Kg/ h. No plano cardíaco,
o objetivo é o de evitar problemas
graves de condução e de
excitabilidade e sinais de isquemia.
A utilização de anticoagulantes
na prevenção de tromboses é
controvesa, considerado o risco
de hemorragia. Muitas vezes
torna-se necessária a realização
de técnicas cirúrgicas tais como
fasciotomia descompressiva,
desbridamento de tecidos
necrosados...
Queimaduras causadas por alta-tensão elétrica
ECG de repetição, CPK-MB, ecocardiograma. |
Função Renal, mioglobinúria, CPK. |
Raio X de crânio e coluna (outros quando necessario), eletromiografia. |
Abdomen sem preparo (perfuração de orgãos). |
Exame oftalmológico, timpânico e neurológico completo. |
CONCLUSÃO
O relâmpago atinge raramente os
alpinistas o que é bom pois a
mortalidade nestes casos é de
50%. Se a vítima sobrevive, o
prognóstico resta bom , desde que
ela seja resgatada rapidamente,
aliás as lesões devido a corrente
diminuem as resistências do
organismo que se encontra
particularmente exposto ao frio,
a altitude e a riscos diretos.
Todo paciente atingido por raio
é suspeito de atentados multiplos
e deve ser internado em unidade
de vigilância continua pelos
menos por 24h.
O quadro clínico pode ser muito
rico, mas a terapia sintomática
e preventiva (pricipalmente renal)
de diversos tipos de acidentes
com raio, tem mostrado excelentes
resultados. As sequelas são
essencialmente neurólogicas
e tróficas , sendo muitas vezes
invalidantes.
(c) DMTM CHAMONIX 1998
Merci à Vanessa, de Rio,
pour la traduction.
Poderosa tempestade elétrica
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