segunda-feira, 29 de março de 2010

ATO ILEGÍTIMO

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Brasil entra para o mapa da censura na America Latina


Com caso Estadão-Sarney, país se aproxima de outros países do continente na restrição aos meios de comunicação
O jornal O Estado de São Paulo completou 270 dias sob censura. As versões impressa e online estão proibidas de publicar reportagens que se refiram à “Operação Faktor” desde o dia primeiro de agosto de 2009.
A decisão do embargador Dácio Vieira, que censurou previamente o Estado, ocorre em um cenário de tentativas de cerceamento  da imprensa. Entretanto, de acordo com Eugênio Bucci, colunista do jornal, esse caso se sobressai entre os demais. Para ele, a situação é mais grave por envolver um “tema central” da discussão midiática e, mais do que isso, por “seu caráter político”.
Segundo ele, o acontecimento foi recebido como uma agressão e traumatizou a redação do jornal. “Os reflexos desse episódio são sentidos por toda imprensa e pela sociedade porque fere o direito à informação”. Para Carlos Alberto di Franco, colunista e consultor do Estado, trata-se de um precedente perigoso de controle da imprensa. “A Constituição é explícita na defesa da mais absoluta liberdade de imprensa e expressão. A demora na manifestação do Tribunal de Brasília é um desrespeito à própria Constituição”.
O Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) afastou o desembargador por considerá-lo suspeito devido suas relações com a família Sarney. Contudo, a liminar aprovada por ele não foi suspensa. Bucci e di Franco vêem essa contradição com desconfiança. Para o primeiro, trata-se de uma estratégia para se ganhar tempo e “esfriar” as notícias enquanto corre na Justiça uma decisão que “não se sustenta”; para o segundo, é possível identificar “um toque de corporativismo”.
Tendência Latina
O caso Sarney-Estadão se dá em um período de perseguição à imprensa na América Latina. O jornal americano The New York Times em matéria intitulada “Latin American journalists face new opposition” usa o episódio como ponto de partida para discorrer sobre a onda de censura a jornalistas que acontece na região. Segundo o jornal, governos populistas que se elegeram prometendo ajudar os excluídos usam sua força para intimidar a imprensa. Além do Brasil, foram citados Argentina, Bolívia, Venezuela, Equador e Nicarágua.
Nos debates do fórum de emergência sobre Liberdade de Imprensa, em Caracas, o episódio de censura ao Estado foi lembrado e, mais uma vez, utilizado como exemplo de atentado à liberdade de imprensa.
Parece que o fantasma da censura esta de volta e com cara nova
FANTASMA
Há quem discorde de que o Brasil se insere nesse contexto latino-americano de restrição das mídias. “O Brasil tem instituições sólidas e uma democracia em pleno funcionamento. Não é o que acontece nos países mencionados”, diz Di Franco. “Outros políticos, apoiados no precedente, tentarão procedimentos análogos. Estou certo, no entanto, que o Supremo Tribunal Federal porá fim ao abuso”. Esperança compartilhada por Bucci, que também aposta no potencial democrático do Brasil: “o caso Estadão-Sarney é infeliz, mas não se tornará regra”.
Repressão à mídia se espalha pelo continente (arte: Murilo Azevedo)

O todo poderoso Fidel Castro com
 o seu fiel pupilo Hugo Chaves, eles 
literalmente falam á mesma lingua


São Paulo - Regime alega que culpa é do embargo dos EUA, 

que limita infra-estrutura, mas ONG diz que 

governo restringe o uso da web.

Com menos de 2% da população online, Cuba é um dos países mais atrasados no acesso à grande rede, segundo relatório da ONG Repórteres sem Fronteiras. O país tem 13 vezes menos inter- nautas que a Costa Rica e está próximo a países como Uganda e Sri Lanka no nível de acesso da sociedade à web, apesar de apresentar um dos mais altos níveis de educação do mundo, segundo o relatório da ONG.

Líderes na ofensiva

Rafael Correa (foto: Wilson Dias/ABr)
“Fomos nós que ganhamos as eleições, não os gerentes desses negócios lucrativos chamados meios de comunicação.”
(Rafael Correa, Equador)






Hugo Chávez (foto: Valter Campanato/ABr)“Nenhuma liberdade pode ser ilimitada onde existe Constituição. Quem quer viver onde não há leis  deve ir para a selva com Tarzan.”(Hugo Chávez, Venezuela)


Daniel Ortega (foto: Wilson Dias/ABr)






“Os meios de comunicação são a caixa de ressonância dos inimigos do projeto polular. Temos que vê-los como uma arma.”
(Daniel Ortega, Nicarágua)















Parece uma epidemia que grassa, desde sempre, na América Latina. Tudo quanto é protótipo de ditador caudilhesco ou quer se perpetuar no poder — antes através de golpes militares, hoje através de atentados plebiscitários, Cháves, Correa, Evo, Zelaya, contra as constituições nacionais — ou quer amordaçar a imprensa.
Os pulhas não aprendem que a imprensa tradicional pode até ser contida por decretos ou pressões financeiras, mas a internet está aí pra não deixar que os ‘Cháves’ proliferem.
Anos de chumbo

O jornalista e escritor Audálio Dantas, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo durante os anos de chumbo, sabe bem o que é censura e tem ojeriza a ela. Contra esse instrumento de ditaduras de todos os naipes, relembra, insurgiram-se jornalistas, intelectuais, escritores e democratas em geral, durante a ditadura militar e em vários outros momentos. Agora, mais de 20 anos depois dos tempos de arbítrio, ele se espanta ao ver de volta o fantasma que julgava banido por causa de sentença do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). A mordaça impede o Estado de noticiar reportagens da Operação Boi Barrica da Polícia Federal, que investigou e indiciou por vários crimes o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
"Não deixa de ser curioso que exatamente o Estadão, um dos poucos jornais da chamada grande imprensa que conviveu com censores em sua redação, seja mais uma vez vítima da mordaça", disse. Ele se refere ao período entre 1968 e 1975, quando o jornal publicava poemas de Camões - e o Jornal da Tarde, receitas de bolo - em suas páginas para mostrar à sociedade que estava sob censura da ditadura.
"Lutamos muito contra a mordaça à livre opinião e ao livre pensamento e construímos uma Constituição que é taxativa, ao banir a censura do País. De repente, vemos esse instrumento de volta com o Judiciário fazendo o triste papel de censor no lugar dos militares."
SURREAL
Censura é um tipo de ditadura, 
que aos poucos vai mostrando
 sua verdadeira cara
Para Audálio, a situação só pode ser classificada como surreal. "O caso do Estado, apesar de grave, não é o único e diariamente temos tido notícia de jornais censurados." Levantamento da Associação Nacional de Jornais (ANJ) constatou 12 casos de censura a veículos de informação em várias partes do País somente a partir de julho deste ano.
Uma agravante no caso específico do Estado, na opinião do jornalista, é o tempo que tem demorado para haver uma resolução - desde 31 de julho, quando o desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF, determinou a censura. "A Justiça é muito rápida em alguns casos como, por exemplo, ao conceder, em meras 24 horas, liminar para os donos de shoppings em relação à lei do estacionamento grátis, mas a censura ao Estado se arrasta, sem solução."
A reclamação do jornal contra a decisão do TJ-DF será julgada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 9. No pedido de liminar pela derrubada da mordaça, os advogados do Estado sustentam que a decisão do TJ-DF contraria sentença na qual o STF revogou a Lei de Imprensa e reforçou o pleno direito à liberdade de informação, ao derrubar a legislação da ditadura.



Segundo o jurista Luiz Flávio Gomes,
 "a censura ao Estadão viola a
 Constituição brasileira e o regime
 democrático vigente no Brasil"


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